quarta-feira, 29 de março de 2017

Por: por Leonardo Miranda


Desempenho. A palavra repetida por Tite a cada coletiva após vitórias da Seleção Brasileira - já são 9 consecutivas e a garantia de ir para a Rússia em 2018 - revela muito mais do técnico que mudou o Brasil. Era natural que a Seleção melhorasse com a chegada de Tite, no melhor momento na carreira e cercado por uma comissão de trabalho e uma maneira de trabalhar e delegar que já se provou vencedora no Corinthians. Mas o que não se esperava era que o desempenho fosse tão bom.

Desempenho está muito relacionado à exigência, nível de concentração, respeito…outras palavras muito repetidas por Tite e que mostram um pouco como funciona a cabeça do técnico: o jogar bem vem antes do vencer. Desempenho é, antes de tudo, fazer com alto nível de acerto o que se propõe a fazer. Logo, para analisar desempenho é preciso analisar a proposta, e o quanto dessa proposta foi seguida.

O Brasil de Tite tem gosto por jogar bem. “Gosto” pelo desempenho, como tão falado pelo técnico.

Muito disso vem de fazer o jogador entender que o que é mostrado dá certo se todos acreditarem e colocarem em campo. Sem separar ataque ou defesa, sem delegar funções. Todos cresceram de desempenho com uma equipe mais coletiva, que divide todas as tarefas: a armação, a conclusão, a marcação…é quase lógico: não fica mais fácil para o zagueiro não apelar para o chutão se ele tem uma opção de jogo perto dele, como na imagem abaixo, com Renato Augusto abrindo e dois volantes (Casemiro e Paulinho) buscando a bola bem perto da zaga?Sabe aquela palavra sempre citada por quem não gosta de tática, “compactação”? Ela também serve para explicar ofensivamente um time. Não fica mais fácil para os meias que flutuam receber uma bola boa dos volantes e ter atacantes à frente para receber? E se todos estiverem perto para fazer isso, o passe sai mais curto, ou seja, “menos difícil” de ser feito. Se isso dá certo, o nível de confiança aumenta. E confiança, no futebol, é algo importantíssimo: quanto mais confiança, menos erro, mais acerto, mais desempenho…é um ciclo.Tudo isso só é possível porque existem valores. E além de valores, há também a ideia de colocar em prática um futebol mais alinhado com os times vivos na memória do torcedor, como os de 1970, 1982 e 2002: velocidade, toque rápido, infiltração…Tite resgatou muitos aspectos do modelo de jogo que fez sucesso no Corinthians, adaptando para as exigências da Seleção. Os valores permanecem os mesmos. E ajudam a entender o sucesso do treinador há 6 anos no cenário nacional.

Precisamos falar (agora e pra ontem) sobre homofobia no futebol
Não, esse não é um assunto “tabu”. Muito menos proibido. Sequer polêmico. Os gritos de “bicha” que parte da torcida entoava nos tiros de meta do goleiro paraguaio na Arena Corinthians se caracterizam como homofobia, ou seja, crime. Não é mimimi, não é frescura, muito menos futebol Nutella. É crime.

Agora, se você acha que gritar “bicha” não é ofensa, que “faz parte do futebol”, ou se te incomoda tanto que em 2017 esse discurso de que “vale tudo” não seja tão aceito, então repense. Abra a mente para o que é ou foi considerado normal. Você já se sentiu prejudicado por ser apenas…você? Até 1889, a escravidão era legalizada e tinha até justificativa científica. Até 1965, brancos e negros não podiam se casar nos Estados Unidos pois “não era considerado normal”. Ou seja, tudo o que um dia foi “normal” hoje pode provocar repulsa pelo caráter excludente e altamente discriminatório de determinadas ações. Vivemos uma era de quebra de paradigmas, e o grito de “bicha” faz parte dessa mudança.

Justin Fashanu se suicidou aos 37 anos. Ele, até hoje, é o único jogador abertamente homossexual a jogar na Europa. O grito de “bicha” é mais um dos atos que fizeram e fazem um LGBT morrer a cada 37 horas no Brasil: medo, insegurança, perseguição, poucas chances…não, o grito de “bicha” não é mimimi. É crime. Chega desse assunto ficar dentro do armário como dezenas, centenas e possíveis milhares de jogadores, atletas, técnicos, pessoas e seres humanos que sofrem, se matam e são assassinadas pelo medo de se exporem apenas pela opção sexual. Pode parecer pouco, mas manter a boca fechadinha no tiro de meta já ajuda, e muito.
FONTE:http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/painel-tatico/

Nenhum comentário:

Postar um comentário